terça-feira, 2 de setembro de 2014

Breve Reflexão Sobre Alimentos Orgânicos #01

Embora não tenha recebido, até o momento, via blog um questionamento sobre o porquê ter colocado no texto anterior que o consumo de orgânicos por parte dos Flintgreens está como fator negativo, este questionamento é bem comum em minhas conversas em mesas de boteco. Por isso vou iniciar algo que pretende ser uma série (como pode ver pelo titulo) de reflexões sobre os orgânicos. Para bem dizer não iria fazer isso essa semana, mas, por vários motivos, acabou sendo oportuno. OBS – Só para ficar claro, não sou contra alimentos orgânicos... mas há que se diferenciar o que é filosofia e o que é greenwashing.

Recebi essa semana a indicação deste artigo sobre alimentos orgânicos. Não é o primeiro artigo sobre experiências que realizam este tipo de comparação que eu leio, e várias das que eu já tive contato fazem parte da base de dados que levou ao artigo original (que pode ser lido por aqui). Este é um grande embate científico a cerca do tema pois, cada vez que um estudo como este é lançado, normalmente aparece alguma resposta na direção oposta (na forma de um outro artigo ou opinião publica de um cientista que contesta a metodologia do mesmo) quase sempre ligada a uma empresa de agroquímicos.

Existe uma dificuldade realmente muito grande em realizar um estudo definitivo sobre as diferenças nutricionais entre orgânicos x convencionais e, eu diria mais, que o que existe na verdade é uma impossibilidade de determinação. Isso simplesmente pelo fato de que os sistemas de cultivos são (e devem ser) completamente diferentes uns dos outros, ainda que não pareçam. Se fizessem um estudo para determinar as diferenças nutricionais entre dois cultivos convencionais da mesma variedade vegetal, porém, cultivados em locais diferentes, há uma grande probabilidade de se constatar alguma diferença nutricional. Isso porque a presença de micronutrientes não avaliados no exame do solo podem fazer muita diferença, além de resposta fisiológica da planta a alguma adversidade do ambiente pode levar a fabricação de algum composto de metabolismo secundário que terá alguma função nutricional (positiva ou negativa). Uma alternativa, e você talvez tenha pensado nisso, é fazer em ambiente controlado, mas eu refuto esta ideia por dois motivos: primeiro, e mais obvio, é que nós não podemos confiar, para fim de nortear nossa alimentação, em resultados oriundos de ambientes controlados vistos que, nem remotamente, os alimentos que chegam em nossas mesas são frutos de um processo semelhante. Com certeza os resultados são completamente diferentes da nossa realidade; em segundo lugar os cultivos orgânicos utilizam, ou deveriam utilizar, de atributos do ambiente para garantir sua sustentabilidade. A diminuição da complexidade do ambiente, para fim de controlá-lo, pode diminuir muito a capacidade do sistema e prejudicar, e muito, os resultados do orgânico.

Por fim, gostaria apenas de frisar o detalhe jornalístico. Observe que, no próprio texto afirma que o artigo tem como objetivo mostrar que a forma de cultivo influencia nos fatores nutricionais dos alimentos e, exatamente por isso, não se concluiu nada a respeito do que é mais saudável. Mas, a despeito disso, a jornalista fez questão de estampar no título que o estudo confirma os benefícios do alimento orgânico. Tsc, tsc, tsc...

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