terça-feira, 21 de outubro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Breve Reflexão Sobre Alimentos Orgânicos #2 – Origens



Continuando a série sobre orgânicos, vou aproveitar como a polêmica causada pelo próprio nome para apresentar, de forma objetiva, um pouco da história e como chegou onde chegou. A palavra orgânico segundo alguns dicionários, significa aquilo que diz respeito a órgãos, também como a parte da química que estuda os compostos de carbono (alguns fazem referência aos alimentos orgânicos, apresentando uma definição, mas que, por si só, não explica o motivo deles terem este nome). E é aí que já pode começar a confusão, afinal boa parte dos agroquímicos, do ponto de vista químico, são orgânicos uma vez que possuem compostos de carbono. Claramente pode se perceber que o dicionário não foi a base, ao menos não foi a única, para batizar essa categoria. De onde vem esse nome então?

A DEFINIÇÃO NÃO DEFINE

Esquecendo um pouco o dicionário vamos dar uma olhada no que diz a definição de alimentos orgânicos. Vou colocar aqui a definição citada pelo PortalOrganico (que pode ser lido na integra aqui) que é uma entidade de referência nesta área, mas, se for procurar em outros sites, artigos científicos, leis e etc, a definição, muito provavelmente, vai ser bem parecida com essa:

“O alimento orgânico não é somente “sem agrotóxicos” como se veicula normalmente. Além de ser isento de insumos artificiais como os adubos químicos e os agrotóxicos (e isso resulta na isenção de uma infinidade de subprodutos como nitratos, metais pesados, etc) ele também deve ser isento de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos e de organismos geneticamente modificados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formaldeído) e aditivos químicos sintéticos como corantes, aromatizantes, emulsificantes, entre outros.”

Agora, caso você não tivesse conhecimento do motivo dos alimentos orgânicos terem este nome, depois de ler esta definição ele está claro pra você? Creio que pra ninguém estaria.

Bom... o motivo de serem chamados de alimentos orgânicos está ligado ao movimento orgânico surgido nos EUA, e a explicação do porquê deste nome não cabe em uma simples definição... vamos falar um pouco da história dele.

ORIGEM DO MOVIMENTO

Antes de mais nada, objetivo aqui não é escrever um histórico do movimento... pessoas mais competentes já fizeram isso e, sinceramente, eu não tenho nada a acrescentar. O que vou tentar fazer aqui é apenas destacar um recorte para subsidiar meu ponto de vista. Para maiores informações sobre a história é só fazer uma rápida pesquisa no google. Vou deixar aqui um link de um bom resumo e outro que concatena a origem do movimento orgânico com o do movimento ambiental.

Na década de 1940 o estadunidense Jerome Irving Rodale decidiu abandonar a vida da cidade e se mudar para uma fazenda recém adquirida no estado da Pensilvânia, para viver da terra. O motivo de seu fugere urbem foi ter tido contato com a obra de Sir Albert Howard em especial o livro An Agricultural Testament.
Jerome Irving Rodale. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/8/85/Jerome_Irving_Rodale.jpg

Howard era um agrônomo inglês que foi enviado para Índia como responsável técnico de um dos campos de produção localizado no distrito de Indore. Lá Howard recebeu o desafio de manter a produtividade dos campos, através das técnicas modernas de cultivo, que se encontrava em queda. O que Howard observou é que, os campos tradicionais da região, que contavam com a agricultura camponesa, mantinham sua fertilidade ano após ano enquanto os que utilizavam tais técnicas modernas subiam a produtividade de uma vez e, logo após, declinavam. Assim, Howard se pôs a estudar as técnicas de cultivo tradicionais locais, a que batizou de Método Indore, e fez diversas reflexões sobre como era insustentável as técnicas ditas modernas utilizadas na época. Howard, e na mesma época, na Áustria, Rudolf Steiner (fundador da agricultura biodinâmica), chegaram a conclusão que, para manter a sustentabilidade da propriedade, era necessário que se integrasse as atividades fazendo com que ela funcionasse como um macro organismo. 

Compreendendo então as ideias de Howard, Rodale as pôs em pratica, com as devidas adaptações, fundou a editora Rodale Press e, em 1948, publicou o livro Organic Front onde ele apresentou seu resultado. Essa ideia de origem a revista Organic Farming, publicada pela própria editora e funcionava como uma rede de experiencias para aqueles que tentavam fazer sua fazenda funcionar como um organismo. Nos anos 60, com o movimento de contracultura, a revista ganhou a atenção de quem questionava os rumos da sociedade moderna (potencializada pela obra de Rachel Carlson, Primavera Silenciosa, onde ela denunciava os danos ambientais causados pelos pesticidas, servindo como marco zero do movimento ambientalista) e o acabou ficando estigmatizada como publicação para hippies e o movimento como orgânico graças a ela. Um episódio envolvendo uma intoxicação em massa devido a uso de pesticidas fez com que estes agricultores, antes rejeitados, passassem a ser procurados pelas pessoas que se preocupavam com sua saúde. Como tudo que começa a dar dinheiro, aproveitadores começaram a se autointitular orgânicos, o que levou a ser criado o selo de identificação para separar quem realmente era dos que estavam só se aproveitando da situação. A partir daí foi necessário a criação de leis para regulamentar o processo. Os hippies foram deixados de lado, as pessoas que entendiam de criar leis tomaram a frente e, como era de se esperar, a filosofia do orgânico se perdeu no meio de normas e o nome deixou de fazer sentido.

PS – A revista ainda existe... tem até um site.

UM PESO, DUAS MEDIDAS

No Japão, ocorreu uma intoxicação em massa por causa de efluentes de uma fabrica, que lançava mercúrio sobre ás águas, e ficou conhecido como desastre de Minamata. A contaminação da Bacia de Minamata teve impactos na agricultura e pesca uma vez que a água contaminada acabava por contaminar os peixes e vegetais. Para se ter certeza de que os alimentos não proviam de áreas de risco de contaminação ao invés de adotarem a medida de terceirizar a a resolução do problema mandando alguém que fiscalize a origem, como feito nos EUA e copiado no Brasil, iniciou um movimento conhecido como Tekei que aproximava os consumidores dos agricultores. Essa atitude além de resolver o problema deles inibe o surgimento de outros problemas que foram aparecendo para os países que adotaram os selos orgânicos. Hoje no mundo existem alguns movimentos, como o CSA (no Brasil temos outro belíssimo exemplo com a Rede Ecovida), que, assim como o Tekei, vem buscar essa aproximação entre agricultores e consumidores como uma forma real de desenvolvimento sustentável. Alvin Toffler, autor da obra A Terceira Onda, criou o termo prossumidor, que é uma flexão das palavras produtor e consumidor, que encaixa perfeitamente com a filosofia do Tekei.